domingo, 10 de junho de 2007

ANTÔNIO TOTA - UM GRANDE PREFEITO.
O reconhecimento deste fato não é mera decorrência do recente falecimento de Antônio Soares de Figueiredo, dentro daquela sabedoria popular que diz “quer ser bom, morra”. Nem da amizade pessoal que nos unia. E que garantia a audiência e o patrocínio que concedia ao programa. Ninguém que tenha conhecido o homem que foi prefeito de Mãe Dágua por quatro mandatos, pode negar este fato. Como pessoa, tinha os defeitos que todos nós temos. Como muitos de nós pode ter cometido excessos na juventude, mas no exercício de um cargo público é citado como modelo.
Há trinta anos, este sertanejo que não usava meias-palavras, franco de doer, conduziu os destinos da cidade de Mãe Dágua, um lugar onde só vai quem tem negócio, mas onde a administração pública funcionava com é raro em nossos tempos. A Educação educava. A Saúde prevenia e curava. As estradas eram conservadas (Todo ano custeava a recuperação do trecho São José do Bonfim-Mãe Dágua executada pelo DER). O transporte escolar servia exclusivamente aos estudantes. Os funcionários públicos (pasmem!) trabalhavam. E recebiam sempre em dia. Os fornecedores nem precisavam ir atrás do pagamento. E ninguém, por mais amigo que fosse, tinha coragem de propor a ele um negócio escuso. Governou com “mão-de-ferro”, mas com honestidade. Assim como todos os que indicou e apoiou, em três dos mandatos em que ele próprio não podia concorrer. Para esses era fiscal intransigente.
Exemplos de como as coisas funcionavam em Mãe Dágua são inúmeros. O médico do PSF permanecia na cidade os cinco dias da semana. O médico que prestasse serviço no hospital morava no próprio hospital. A ambulância estava a postos para deslocar para Patos e outros centros os que o médico do hospital local não podia acudir. O ônibus escolar só carregava um passageiro numa emergência e se autorizado pelo próprio prefeito. Em Patos, depois de conduzir às suas escolas todos os alunos que trouxera de Mãe Dágua, o ônibus estacionava próximo à casa de Toinho, onde ficava até a hora de recolher os estudantes. Os recursos da Prefeitura eram aplicados com o conhecimento da população e todos os programas de educação, saúde e assistência social funcionavam “pelo livro”.
Estivemos na cidade duas vezes em missão oficial. De uma vez para levantar possíveis débitos para com o FGTS, só encontramos pequenas diferenças prontamente sanadas. (E, Toinho exigiu de nós que lhe comunicássemos qualquer irregularidade que encontrássemos, mesmo que não fosse da nossa conta). De outra, fomos com um colega verificar o funcionamento do PETI, programa do Governo Federal que se destina a evitar o trabalho infantil. O colega, que coordena o PETI a nível estadual no que toca ao Ministério do Trabalho, ficou impressionado com a regularidade do programa e citou Mãe Dágua, em um Seminário realizado em João Pessoa (I Seminário Estadual Sobre o Trabalho da Criança e do Adolescente, nos dias 30 e 31 de janeiro de 2002) como exemplo de funcionamento pleno e efetivo do programa.
No comércio e setor de serviços de Patos é legendária a regularidade com que a Prefeitura de Mãe Dágua paga os seus compromissos, coisa raríssima em nossas prefeituras. O fornecedor não precisava enfrentar os 38 km até Mãe Dágua para ir receber contas. O próprio tesoureiro, às vezes o próprio Antônio Tota é que ia fazer os pagamentos no próprio estabelecimento. No Campo do Rato diziam que ela mandava fazer fila. Durante os trinta anos em que conduziu, direta ou indiretamente, a administração de Mãe Dágua, só um ano o TCE levantou dúvidas sobre alguns pagamentos, o que foi devidamente explicado sem prejuízo para a aprovação das contas.
Por tudo isso, Antônio Tota foi reconhecido como um grande administrador municipal. Quem conhece Mãe Dágua, depois de enfrentar os trinta e oito quilômetros que a cidade dista de Patos, vinte e um deles em estrada de terra (cujo capeamento asfáltico era o maior sonho de Toinho), se surpreende de ver uma cidade pequena, porém toda calçada, com as repartições públicas todas bem acomodadas e com tudo funcionando, todo dia.
Era corrente entre prefeitos uma história que teria acontecido em uma reunião de prefeitos em João Pessoa. Diante de colegas que em sua maioria reclamavam da falta de recursos na administração Toinho Tota teria feito um desafio. Quem de vocês qjuer me arrendar a sua Prefeitura. Em Mãe Dágua o dinheiro dá e sobra. E era verdade, o dinheiro de Mãe Dágua rendia como em poucas outras prefeituras.
Antônio Tota nasceu em Mãe Dágua, em 06 de janeiro de 1939, e amava a sua terra. De lá saiu para estudar, formando-se em Agronomia e prestando serviços à Secretaria de Agricultura do Estado ao longo de toda a vida, salvo os períodos em que exerceu mandatos. Fazendeiro no município, em 1976 elegeu-se prefeito e a partir de 1977, quando tomou posse, passou a comandar a política de Mãe Dágua. Prefeito quatro vezes (77/82, 89/93, 97/2000 e 2001/2004), indicou e apoiou os outros três prefeitos do período (83/89, 93/97 e 2005/2008). O longo comando se deveu antes de tudo à sua grande capacidade administrativa e política e não ao fato de lhe faltarem adversários. ]
De habitual “cara-feia”, era na intimidade brincalhão e gozador. Tinha verdadeira devoção pela família: pai, mãe, esposa, filha, irmãos, sobrinhos, genro e, agora, os dois netos que faziam dele “gato-e-sapato”. Felipe, de sete anos, o chamava de “Bobo” e alegava para o pai e a mãe que estava cuidando do avô, para não ir dormir em casa.
Antônio Tota atendia a todos que o procuravam. Se não podia atender dentro da jurisdição do município e com os recursos públicos, atendia de seu próprio bolso a quem realmente precisasse ou a um amigo em dificuldades. E ninguém ousava tentar enrolá-lo.
Não só Mãe Dágua perdeu um grande administrador. Patos perdeu um grande amigo. A prova foi a multidão que esteve no seu velório e compareceu ao seu sepultamento. Deputados, prefeitos, vereadores, lideranças políticas e o povo de Mãe Dágua, de Patos e das cidades vizinhas foram vê-lo pela última vez ou acompanhá-lo até o cemitério de Santo Antônio onde foi sepultado no domingo, por volta do meio dia. Antônio Tota faleceu no sábado, por volta de sete e meia da noite, quando dava entrada no Hospital São Francisco, vizinho à sua residência. Sentiu-se mal, quando dava uma volta pela cidade, como fazia todas as noites. Próximo ao Posto Redenção do Vale, pediu a um frentista para assumir a direção do veículo pois estava se sentindo mal. No caminho incentivava o motorista a ser mais rápido pois estava muito mal. A assistência médica não foi alcançada a tempo. O anúncio de sua morte surpreendeu a todos. Cuidava da saúde e vinha suplantando os problemas que a idade acarreta. Caminhava diariamente e vinha evitando a bebida, como ocorrera naquele dia que passara todo na fazenda, entre amigos, brincando, mas sem beber.
Daqui transmitimos, mais uma vez, a dona Margarida, à filha Herta, ao genro Monaci Marques (prefeito de Vista Serrana), aos netos Felipe e Maria Heloísa, a todos os irmãos e sobrinhos (inclusive Kléber e Júnior, ex e atual prefeitos) as nossas condolências.
Antônio Soares de Figueiredo, Antônio Tota, cumpriu a sua missão na terra. Foi um exemplo de administrador. (LG)

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