domingo, 12 de agosto de 2007

GRANDE ABDIAS.
O ex-vereador patoense, Abdias Guedes Cavalcanti, faleceu na última quarta-feira, 08 de agosto, na cidade de Patos, aos 91 anos de idade. Nascido em 05/08/1916, em Pedra Lavrada, então distrito de Picuí, filho de Galdino Guedes Cavalcanti e Enedina Guedes Cavalcanti, Abdias acompanhou a família quando esta veio morar em 1925, no sítio Papagaio, do distrito de São Mamede, então pertencente a Santa Luzia. Lá Galdino, pai de Abdias, foi trabalhar com o Coronel Janúncio Nóbrega, pai do futuro deputado Napoleão Nóbrega e avô do saudoso Dr. Romero Nóbrega.
Em 1930, Galdino, juntamente com o Coronel Janúncio foi acusado de um latrocínio cometido na região, crime do qual foram absolvidos, posteriormente, pelo Tribunal de Justiça, e que só teve a sua autoria conhecida muitos anos depois, quando foram identificados mandantes e executores, criminosos da região de Patos. Enquanto se desenrolava o processo, na Comarca de Santa Luzia e depois no Tribunal de Justiça, Galdino mudou-se para Campina Grande, em 1931. Ali Abdias continuou os estudos, iniciados na zona rural de São Mamede, conseguindo ser aprovado no exame de admissão em 1933. Naquele ano, Galdino e o coronel Janúncio fora absovidos pelo Tribunal de Justiça, o que levou a família de Abdias a retornar para o município de Santa Luzia, indo se radicar noutra fazenda do Coronel Janúncio.
Em novembro de 1935, preocupado em fazer os filhos estudar e se encaminharem na vida, Galdino mudou-se para Patos, onde se instalou inicialmente com um hotel, em frente à estação rodoviária. Dali se mudou depois para Condado, progressista distrito de Malta, onde havia um açude construído pelo DNOCS, ali continuou no ramo hoteleiro. Depois de trabalhar algum tempo em Patos no comércio de peças, atividade que aprendera em Campina Grande, Abdias foi para João Pessoa em 1938, com a pretensão de se submeter a um concurso de classificador de algodão, realizado pelo Estado. Aprovado ficou na capital esperando a nomeação, período em que gerenciou um cassino, em pleno cabaré pessoense. Em 1940, Abdias Guedes assumiu a função de classificador de algodão em Patos. Ali casou em 1943, com a patoense, Angelita Soares.
Em 1944, foi aprovado em um concurso para agente fiscal do Estado mas desistiu, quando foi nomeado para Bonito de Santa Fé, onde na época só se chegava a cavalo, no tempo da seca e que ficava isolada no inverno. Em 1946, tirou licença como classificador de algodão para ir trabalhar, em Patos, como subgerente de Noujain Habib, revendedor de carros Ford. Dali saiu em 1947 para se estabelecer com uma loja de peças e acessórios.
Em 1945, Abdias, a convite de Bivar Olinto, a quem acompanhava politicamente desde o ano anterior, participou da fundação do diretório local do PSD, sendo escolhido secretário do partido. Começou aí a militância política de Abdias Guedes. Em 1951, Antônio Gomes, sogro de Bivar e presidente do diretório municipal do partido, indicou o nome de Abdias como candidato a vereador. Eleito assumiu por dois mandatos, à época de apenas um ano, a presidência da Câmara (1953 e 1954). Neste período participou da fundação da Associação Comercial (de que foi presidente), do Ginásio Comercial Roberto Simonsem (onde cursou até o sétimo ano, parando pelo seu problema na vista) e do Rotary Clube de Patos. Sua intensa atividade legislativa e a participação em todas atividades sociais da cidade lhe garantiram as reeleições, em 1955 e 1959, e a primeira suplência em 1963, quando assumiu várias vezes.
Abdias continuou no comércio de peças e acessórios até 1955, quando passou para o comércio de tecidos. Ali ficou até 1960, quando a chegada das grandes firmas do ramo, vindas de Recife, como Cebarros, Paulista e Narciso Maia, afugentaram as pequenas firmas locais.
Durante a administração de Bivar (1959/1963), na falta de advogados para acompanharem os réus pobres, o prefeito, a quem Dr. Artur Moura pedira a indicação de um nome para o cargo, nomeou Abdias como advogado “ad hoc”, com a incumbência de funcionar nos processos daqueles réus, quando submetidos à justiça. Virou rábula. Em 1961, por indicação de Drault Ernani, Abdias Guedes foi nomeado para um cargo federal de nível médio, que assumiu na Escola Agrícola Vidal de Negreiros, em Bananeiras. Nesta função ele viria a se aposentar em 1973. Para isso, porém teve que ultrapassar vários obstáculos jurídicos tendo que recorrer à Justiça, tanto para se aposentar como para receber os atrasados entre o pedido de aposentadoria e a sua implantação. Com o dinheiro recebido, virou também agropecuarista, comprando uma fazenda.
Em 1977, já aposentado, Abdias voltou para a Câmara para seu quinto mandato, desta vez eleito como o mais votado. Foi reeleito em 1982 e 1988. Neste último mandato, foi presidente da Câmara, quando presidiu a elaboração da Lei Orgânica do Município (sancionada em 1990), de cujo trabalho participamos, na condição de assessor, juntamente com o Dr. Normando Salomão Leitão. O Banco do Brasil, por solicitação de Abdias, nos liberou no período da tarde para participar dos trabalhos. Ao final do mandato, por divergências com o adventício Edivaldo Motta, o velho pessedista abrigou-se no PFL de Rivaldo e Geralda Medeiros. Talvez por isso, Abdias não conseguiu se reeleger em 1992, abandonando a partir daí as disputas.
Mas a política estava no sangue e Abdias continuou a acompanhá-la, freqüentando o escritório do ex-companheiro Virgílio Trindade, que ele aponta em seu livro autobiográfico TRAJETÓRIA DE UMA VIDA, como um dos seus professores, ao lado de Ronald de Queiroz e Maria Ester Fernandes. No escritório de Virgílio ele ia saber das notícias e comentá-las com o profundo conhecimento que tinha dos bastidores da política local. Eu mesmo participei de muitos desses papos. Continuava bem informado sobre tudo o que acontecia na região, no Estado e no país. Era ouvinte assíduo da nossa Revista da Semana, do Factorama e do Radar de Virgílio. Até os últimos dias, nos momentos de lucidez, os filhos colocavam o rádio ao lado da cama para que ele escutasse seus programas preferidos.
Nos últimos dias, os amigos vinham acompanhando o calvário de Abdias. O velho problema na vista, que o impediu de continuar os estudos e provocou a perda de um olho, se juntou a problemas de próstata e, agravados pelo estado de depressão que se seguiu à morte de Dona Angelita, companheira dedicada de toda a vida, levaram Abdias a viver sob constantes cuidados médicos. Há cerca de quinze dias, os médicos piedosamente aconselharam que fosse levado de volta para casa, onde rodeado pelos carinhos da numerosa família comemorou o último aniversário, no domingo passado (05/08).
Do seu casamento com Angelita Soares Cavalcanti, Abdias teve nove filhos: Abdisia, Dilene, Afonso, Roberto, Rejane, Luzia Stella, Benjamin Franklin, Henrique Jorge e Maria das Neves. Vários deles casados, lhe deram netos e bisnetos. O amor da família foi o lenitivo para seus últimos meses de vida, como fora em toda a sua existência. Nunca lhe faltou a atenção, o apoio e o carinho de um deles em todos os momentos de seu calvário final.
Abdias faleceu na madrugada da última quarta-feira, sendo sepultado no final da tarde, no Cemitério de São Miguel, acompanhado por grande número de amigos e antigos eleitores.
Com Abdias se acaba talvez uma geração de políticos patoenses que pontificaram na nossa política por mais de cinqüenta anos. Velha raposa política, Abdias é um dos últimos deles (ainda vivos Arlindo Wanderley e Orlando Jansen, fundadores do PSD patoense) e continuará na nossa memória como o eterno vereador patoense.

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