domingo, 19 de agosto de 2007

UM ADEUS PARA POLION CARNEIRO.
Amigos de Polion Carneiro e amigos da família participaram na última sexta-feira (17/08) do último adeus a este grande guerreiro da cidade de Patos. Numa época em que a nossa Câmara de Vereadores brilhava pela qualidade dos seus componentes, onde grandes oradores se juntavam a pessoas de pouca instrução mas de grande representatividade popular, Polion Carneiro foi destes nossos inesquecíveis representantes. Nesta época, Polion Carneiro, Marconi Sobral, Antônio Lorota Simões, Wilson Dias Novo e João Bosco Dias, se confrontavam com as lideranças de cunho popular e a experiência política de Chico Bocão, Cícero Sulpino, Zeca Baeta e Rênio Torres. Era uma época de grandes debates tendo, de um lado, a bancada minoritária do prefeito Olavo Nóbrega, de outro a bancada de oposição, com cinco aguerridos vereadores capitaneados pelo presidente Rênio Torres, que eleito com Olavo rompeu antes da posse e eleição da Câmara. Mas mesmo em minoria, a bancada olavista conseguia extrair dos adversários os votos suficientes para apoiar as matérias de interesse da população. Nesta horas, falava mais alto o interesse da cidade.
Polion foi eleito para seu primeiro mandato em 1968, com 731 votos, fruto de sua oratória inflamada e das amizades de Severino Canuto e dona Diva Carneiro. Em 1972 não disputou as eleições, mas voltou em 1976 com 673 votos e se reelegeu em 1982 com 764 sufrágios. Então já se dividia entre Patos, Recife e Natal, onde prestava serviço ao Banco Nacional de Habitação (BNH). Com a extinção do BNH, Polion foi transferido para a Caixa Econômica Federal, na qual foi transferido para João Pessoa, onde veio a se radicar definitivamente. Substituiu a militância política em Patos, pela militância sindical em João Pessoa, elegendo-se presidente do Sindicato dos Bancários de João Pessoa, em 1990. Mas esta mesma militância sindical, o reintroduzira na política, fazendo com que tentasse uma vaga na Assembléia Legislativa em 1986, pelo PDT. Em 1988, tentou ser vereador em João Pessoa, tentativa que repetiu em 2000, também sem sucesso.
A oratória inflamada de Polion Carneiro, cuja capacidade de resistência fora incubada nos tempos de estudante em uma seminário evangélico em Garanhuns, fez com que o então vereador fosse denunciado como subversivo aos militares que haviam implantado a ditadura de 1964. Acusados de haverem feito pixações na cidade com dizeres como ABAIXO A DITADURA, Ruy Gouveia, Marconi Sobral, Romero Nóbrega, Polion Carneiro, Djalma Marques (Negro Avestruz), Marcos Nogueira e Suélio Marinho conheceram os porões da ditadura. Mas segundo Marconi não sofreram torturas. A prisão foi rápida para a maioria deles. Romero, por interferência da OAB para quem apelou seu pai Napoleão Nóbrega saiu com três dias. Marconi (graças às lágrimas de dona Luzia Sobral aos pés do general Samuel Correia) e Ruy Gouveia sofreram durante oito dias. Marcos Nogueira viveu quinze dias de expectativas. Negro Avestruz e Polion demoraram mais. De João Pessoa foram recambiados para Recife, onde a Auditoria Militar os absolveu, não sem antes os parentes terem gasto um bom dinheiro com advogados. A prisão do grupo, segundo Marconi Sobral, foi fruto de uma denúncia de determinado deputado local que buscava se vingar da derrota sofrida pelo seu partido com a eleição de Olavo Nóbrega no ano anterior. De Suélio Marinho, Marconi não tem maiores detalhes, pois a prisão e a condução dele para João Pessoa foram feitas separadas dos demais. A absolvição e soltura de todos demonstra a má-fé de quem os denunciou. A prisão não deslustrou nenhum dos prisioneiros. Antes foi medalha que os acompanhou pela vida afora como defensores da liberdade e da democracia (Rui Gouveia foi deputado duas vezes, Marconi e Polion reeleitos outras tantas). Minha mana, a Dra. Fátima Lima, foi testemunha das agruras que passaram os prisioneiros, enquanto permaneceram em João Pessoa, onde ela então estudava. Era presença constante durante as visitas aos presos, levando notícias e encomendas de parte dos familiares.
Polion a tudo suportou com estoicismo, por que era um idealista. E idealista e guerreiro continuou pela vida afora. Nunca afrouxou diante da opressão seja dos militares seja dos patrões. Era dos primeiros em todos os movimentos grevistas de que participou. Depois de uma vida de guerreiro e lutador, enfrentou com denodo e espírito cristão a última batalha. Durante cerca de um ano lutou contra a insidiosa doença que terminou por vencê-lo. Pena que as novas gerações não conheçam a história de lutas de bravos como ele, a quem devemos o país que hoje temos.
No culto fúnebre celebrado na última sexta-feira, o pastor Jonh Medcraft lembrou alguns episódios desta luta de Polion Carneiro. Luta pela vida e luta contra a morte. Se na luta pela vida teve o apoio dos amigos e dos parentes, na luta contra a morte estes mesmos amigos e parentes, foram reforçados pela Providência Divina que lhe deu forças para enfrentar o último momento. Embora disperso por algum tempo, enquanto lutava pela vida, Polion voltara nos últimos anos ao rebanho do Bom Pastor. E como lembrava o celebrante de suas exéquias, ao invés de sua morte, parentes e amigos, na última sexta-feira celebraram a sua vida. Polion bem que merecia os cânticos e mensagens que ali foram entoados.
Sua esposa dona Marúsia Araújo Lima Carneiro e as filhas Poliana, Iana e Carol, assim como sua veneranda mãe, hoje como 94 anos, irmãos, demais familiares e amigos têm de que se orgulhar. Polion morreu como viveu, como um grande guerreiro.

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