domingo, 26 de agosto de 2007

MARCONI SOBRAL HOMENAGEIA POLION CARNEIRO.
No domingo passado homenageamos aqui o guerreiro Polion Carneiro, o Polion que eu conheci. Mas, Marconi Sobral, contemporâneo de Polion na Câmara de Vereadores e companheiro das noites de boemia, conheceu o poeta e o boêmio a quem prestou tocante homenagem ao pé do seu leito derradeiro, no cemitério de São Miguel. Vamos tentar reproduzir aqui, o discurso de Marconi Sobral, claro que sem o vigor da oratória do grande tribuno, que hoje esconde debaixo de uma figura simples e sem ostentação um dos grandes oradores que já passaram pela nossa Câmara e pelos nossos palanques e tribunas. Marconi, Advogado de Ofício por muitos anos em Campina Grande, hoje aposentando, ainda é um grande orador, como demonstrou neste belíssimo discurso.
“Polion, você já me conheceu um pouco mais afoito. Você me conheceu num tempo que as palavras fluíam como cachoeiras, inundando os vales das emoções populares, isso porém, antes que imposturas agissem com aquele mega poder “ad nutum”, relegando a segundo plano o sacrossanto Estado de Direito, quando pensavam que estavam acima de todos, inclusive do bem e do mal. Aquele improviso que nos animava tanto, quase emudeceu, pela ação antidemocrática de aves de rapina, de abutres que asfixiaram a nossa voz e impediram os nossos sonhos. Hoje, porém, é diferente, no meu caso, a tirania inibiu a fluência do meu verbo, restando, apenas, este modesto bico de pena que, de forma bissexta, escreve de quatro em quatro anos, quando as emoções e os motivos estimulam.
“Conheci você nos seus verdes anos, candidato à presidência da nossa agremiação estudantil maior, quando fui atraído pela fecundidade do seu verbo fácil, pelo peso de suas idéias e pela sua coragem inimitável, quando as jovens da época, num gesto verdadeiramente afetivo, passaram a nos chamar de “Conin” e “Popó”.
“O tempo passa e veio a memorável campanha municipal de 1968, quando demos combate às imposturas e vencemos de Patos a Brasília, pelo que pagamos muito caro, tempos depois. Vereadores à 6ª Legislatura, pontificavam à época, dentro outros, o “Castro Alves” de Patos, Polion Carneiro, o condor altaneiro das Espinharas, ao lado de Antônio Simões, Roberto Gentil, Rênio Torres e Wilson Dias, entre os quais, ousadamente, eu também tentava um lugar ao sol. Naquele tempo, não havia a presença de bandas afamadas para animar comícios. A sinfonia ficava por conta dos oradores, que a exemplo de Polion enchiam os corredores de nossas ruas, com a força da sua palavra e a serenidade do seu verbo. Na Câmara, disputávamos palmo a palmo, os espaços, em que pese tratar-se de mandato gratuito, determinado pela impostura que grassava na época, era o chamado relevante serviço prestado à pátria, sem que fizéssemos imposição de qualquer natureza. Nem por isso havia desânimo, muito pelo contrário, em lugar do desânimo nos possuir, o que havia eram debates calorosos, o que não deixava de ser salutar ao contraditório, à democracia e ao Estado de Direito, só que depois de tudo, saíamos dali e continuávamos os mesmos grandes amigos das noites de poesias e de sonhos que acalentávamos. Quantas e quantas noites, ao regressarmos das nossas justas ambições, não encontrávamos o carinho materno de Dona Diva e de seu Severino Canuto, que nos cediam muitas vezes os seus próprios aposentos, para que os poetas repousassem, não esquecendo, entretanto, as cobranças e exemplos dos textos sagrados, no dia seguinte, por ocasião de um reforçado café.
“Nas nossas noites, pontificavam os nossos poetas e patrícios irmãos, Castro Alves, Álvares de Azevedo, Fagundes Varela e Olavo Bilac e, entre os estrangeiros, Pablo Neruda e Fernando Pessoa, sendo que o tom maior residia no gongorismo, escola poética que apaixonava os nossos espíritos adolescentes. A carreira clássica também pontificava entre nós, haja vista, somente no nosso legislativo municipal, foram seis os que concluíram Direito, todos oradores das suas turmas.
“Desistindo da vida pública, busquei outros horizontes, a exemplo da capital de São Paulo, à procura de emprego, de trabalho e, posteriormente, cursar Direito na cidade de Campina Grande, obrigando-me a distanciar-me de Polion, mas mesmo assim, sem que eu soubesse, a fraternidade que nos unia, não permitia muita distância, quando fez tramitar na Câmara de Vereadores de Patos, o meu titulo de Cidadão Patoense, transformando-me além de um cidadão potiguar num cidadão de Patos o que muito me orgulha e desvanece.
“Polion também seguiu a sua nova trajetória, funcionário de carreira da Caixa Econômica Federal, acadêmico de Direito e advogado. Não esperava, talvez,, por essa ‘via crucis” tão dolorosa, esse calvário que lhe foi imposto pelo destino, algo que prefiro nem imaginar, até porque ele conhecia de perto a minha sensibilidade. Sei perfeitamente que a sua resignação residiu exatamente na vida de Cristo, de que era um ardoroso adepto e que aos 33 anos viveu o seu calvário, pela remissão dos homens.
“A propósito de minha sensibilidade por ele tão bem conhecida, lembro-me que, certa vez, quando chorava por alguns desvarios da minha vida, ele me dizia: “Chore, Conin, porque pior do que chorar é não ter por quem ou porque chorar”. Era, por assim dizer um poeta, poeta do berço, muito antes dos seus VERSOS DE NINGUÉM, obra que justificou-me trazer o imenso tribuno Raymundo Asfora a Patos, para o seu memorável lançamento, numa noite de festa, quando afirmou que você não tomou emprestado a ninguém o seu processo criador. Mas eu não queria mesmo chorar nessa oportunidade, Popó, porque a sua fé inabalável, fé que remove montanhas, os montes da terra santa, onde Jesus pregava os seus sermões, anunciando a boa nova, o monte das oliveiras, onde chorou e foi traído por Judas, o monte Sinai onde Moisés falava com Deus, enfim o calvário onde Cristo foi crucificado pela salvação dos homens. Que o seu calvário não seja motivo de lágrimas para mim, até porque você sempre acreditou na sentença bíblica que diz: “Aquele que crer em mim, ainda que esteja morto, viverá”.
“Popó, tudo isso é uma questão de tempo. Os nossos caminhos sempre se cruzaram e até aqui, na última morada, o meu túmulo fica à direita do seu. Aqui ficaremos, certamente, no perene e eterno contato com todos os luares sonhados pelos poetas. Nessas calçadas os nossos espíritos se encontrarão em dias futuros, na espera constante da misericordiosa promessa de DEUS”.
Este discurso foi pronunciado pelo grande orador e também poeta Marconi Sobral, meu velho companheiro de seminário, ao pé do túmulo do seu colega de noitadas de poesia e boemia, Polion Carneiro. (LG)

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