domingo, 9 de setembro de 2007

HOMENAGENS A MONS. VIEIRA.
Professores da Escola de Ensino Fundamental e Médio Monsenhor Manoel Vieira, o tradicional Colégio Estadual da Praça João Pessoa, prepararam uma programação esta semana, para homenagear o grande educador que dirigiu o Colégio nos seus primórdios. Exibição de documentário sobre o Padre Vieira na Fundação Ernani Sátiro, exposição de fotos e objetos pessoais na Fundação Cultural Amaury de Carvalho e aposição de placa comemorativa na biblioteca do colégio são alguns dos eventos programados. Os professores se antecipam em um mês às comemorações do centenário do nascimento de Mons. Manoel Vieira que acontece no próximo mês de outubro. No próximo mês, a família e amigos do grande educador deverão promover também uma série de eventos comemorando o seu centenário de nascimento.
Um dos maiores oradores sacros que conheci, parelha do grande Padre Joaquim de Assis Ferreira, Padre Vieira procurava incutir nos seus alunos a fé que o animava. No antigo Colégio Diocesano, substituído pelo Colégio Estadual, os alunos internos assistiam missa todo dia, celebrada pelo seu diretor, o próprio Padre Vieira. Os alunos externos assistiam missa uma vez por semana, na quarta-feira. Até os protestantes assistiam à missa. Lembro-me de dona Lin, professora de Inglês, de tradição evangélica, assistindo à missa, muito compenetrada, junto com as filhas Meta e Melissa, como faziam os demais professores e alunos.
Mas além de presidir a missa diária ou semanal dos seus alunos, Padre Vieira estimulava a fé dos seus estudantes, nos momentos de crise por que passava uma pessoa da casa. Numa crise de apendicite que o deixou às portas da morte, na precariedade da assistência que lhe podia dar o antigo Hospital São Geraldo que funcionava na atual rua Peregrino Filho, ele pediu aos seus alunos que orassem por ele, pois Deus garantiria a sua saúde. E nunca época em que uma simples operação de apêndice ainda trazia altos riscos, com altas de taxas de letalidade, ele teve sucesso e pode com seus alunos agradecer a Deus.
Em outros episódios semelhantes ele mobilizou o alunado para rezar com ele em benefício de alguém que passava por um momento crítico. Lembro bem de pelo menos dois episódios que eram contados pelos mais antigos. Um envolveu um aluno chamado Queiroguinha, de tradicional família sousense. Outra apendicite aguda que pôs em risco a vida daquele interno do colégio. Padre Vieira mobilizou professores, alunos e auxiliares para orarem na capela pela saúde do companheiro que resistiu à, então delicada operação. Outro episódio envolveu o aluno a que todos se referiam depois pelo apelido de Cacimbão. Não cheguei nem a saber o nome próprio daquele aluno. Interno do colégio, Cacimbão caiu num poço amazonas que servia para o abastecimento do Diocesano, numa época em que a cidade nem sonhava com água encanada. Na queda uma pancada na cabeça da qual ninguém acreditava que ele escaparia. Depois de providenciar a remoção do estudante para o hospital, Padre Vieira mobilizou professores, alunos e funcionários para orar por ele e Cacimbão herdou do episódio o apelido que o acompanha, acredito, até hoje, pelo menos entre os contemporâneos de internato.
Um terceiro episódio aconteceu comigo mesmo. Em 02 de novembro de 1961, senti-me mal enquanto assistia a um filme no saudoso Cine Eldorado. Levado às pressas para o SAMDU, serviço de assistência médica pública então existente na rua Paulo Mendes, o médico diagnosticou apendicite aguda e mandou que fosse levado urgente para o Hospital Regional. Ali, com base nos sintomas, numa época em que esperar por exames laboratoriais podia representar a morte em casos urgentes, Dr. Olavo, Dr. Geraldo e Dr. Alcides me operaram do apêndice. Segundo relatos posteriores, o apêndice nada tinha. Já que eu estava com abdome aberto retiraram o apêndice. Mas meu estado de saúde não teve melhoras, justamente porque o problema não era no apêndice. E eu fiquei entre a vida e a morte, fui colocado no balão de oxigênio e recebi a extrema-unção, sacramento da Igreja para os moribundos. Enquanto os médicos lutavam para salvar minha vida, Padre Vieira mobilizou meus colegas de todos os turnos e turmas para rezar por mim. O risco inicial passou, mas eu continuei, indo e voltando, de casa para o hospital, durante vinte e cinco dias. Padre Vieira continuou a comandar as orações em meu favor e diante da recomendação para que eu fosse transportado para Recife, centro de referência médica da região, fez uma campanha financeira entre os alunos e, por intermédio do então deputado Zé Cavalcanti, conseguiu o avião do governador Pedro Gondim, para que eu fosse transferido para a capital pernambucana. Enquanto isso, professores, alunos e funcionários, comandados por Padre Vieira, continuavam a rezar por mim enquanto companheiros meus a mando de Padre Vieira se revezavam na minha cabeceira ajudando minha família nos meus cuidados. Transferido para Recife, continuavam as orações que certamente ajudaram na minha recuperação. Lá a primeira providência, ditada pelo então estudante de Medicina, Sávio Vieira, sobrinho de Padre Vieira, foi mudar a minha dieta o que foi feito antes que fosse internado no Hospital Pedro II. Com a mudança da dieta começaram as melhoras e quando saí do hospital um mês e quinze dias depois, os médicos só suspeitavam de uma pancreatite aguda, como motivo da minha doença. Anos depois descobri, por acaso, lendo uma revista médica em um consultório recifense, que os sintomas da pancreatite aguda mascaram os sintomas da apendicite, só distinguíveis por um exame radiológico ou análises clínicas. No final, valeram as orações de Padre Vieira e meus companheiros, que me acompanharam espiritualmente durante todo a minha doença.
Ainda hoje, eu lembro com carinho a capela, linda na sua simplicidade, onde Padre Vieira celebrava a missa e comandava as orações. Pena que o crescimento da demanda pelo ensino público ali ministrado tenha obrigado o Estado a dar novas destinações a nossa capelinha.
Grande educador, político altamente produtivo como deputado federal , Padre Vieira foi antes de tudo um sacerdote dedicado e que continuou fiel ao seu ministério até a morte. Já com avançada idade se dedicava aos presos, celebrando missa e assistindo espiritualmente os detentos seja no presídio do Roger, seja no Quartel da PM, seja nos quartéis do Exército, seja na Polícia Federal, tudo em João Pessoa, onde passara a residir.
As homenagens que hoje lhe são prestadas, por professores, alunos e funcionários da Escola que leva seu nome, apenas fazem justiça a quem deu tudo de si para fazer daquela Casa um dos mais respeitados educandários do Estado, seja na sua fase de Colégio Diocesano, seja na fase de Colégio Estadual, seja hoje, quando novos e antigos servidores batalham por honrar uma tradição que ele ali implantou. Eu me orgulho de ter sido aluno e professor dos dois colégios: Diocesano e Estadual. E me orgulho, mais ainda, da amizade com que Padre Vieira me honrou e das oportunidades que me ofereceu para chegar ao que hoje sou.

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